Meu pensamento, dito, já não é
Meu pensamento.
Flor morta, boia no meu sonho, até
Que a leve o vento,
Que a desvie a corrente, a externa sorte.
Se falo, sinto
Que a palavras esculpo minha morte,
Que com toda a alma minto.
Assim, quanto mais digo, mais me engano,
Mais faço eu
Um novo ser postiço, que engalano
De ser o meu.
Ah, já pensando escuto, a voz reside
No interno fim.
Meu próprio diálogo interior divide
Meu ser de mim.
Mas é quando dou forma e voz do 'spaço
Ao que medito
Que abro entre mim e mim, quebrando um laço,
Um abismo infinito.