Sunday, October 20, 2013

A Pobreza de certas palavras - António Ramos Rosa


É para ouvires o som de um buraco,
certas palavras despidas, certas palavras pobres:
o som de um buraco.

O sopro que ouvires, não o ouves, não é o sopro da árvore.
Aqui esqueceu-se o peso das pedras.

Por isso outras palavras: as que sobram.
Não as que restam.
Não será um grito. Certas palavras, só.

A quebra muda, nem sequer produz um baque.
Eis o que elas produzem depois de ti:
o som de um buraco.

Entre nós: não o ouvido. Certas palavras mais pobres.
obsessivas, mortas.
Persistem. Morrem.

(Retirado da obra "Nos seus olhos de silêncio")