Friday, January 01, 2010

Um poema de António Ramos Rosa

A palavra é o desejo do espaço e o espaço do desejo
para que tudo o que em nós é confuso e vago
se transforme em leve arquitectura
com janelas para o mar ou campos ondulantes

Não sabemos de onde vem esse desejo incandescente
se é do sangue da terra ou de um voluptuoso vento
e por isso ignoramos se o que escrevemos coincide
com o que em nós se cala numa intérmina neblina

Mesmo quando a palavra é transparente e nua
nunca elimina esse silêncio de montanha imersa
e assim o que nunca foi dito ficará não dito
tão inantigível como a monótona claridade do dia